sexta-feira, 23 de maio de 2014

A auto compreensão do professor de classe

autocompreensão
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“O professor de classe precisa ter a coragem para assumir a imperfeição, pois é só assim que o ensino se toma algo vivo, espontâneo e alegre. É isso o que as crianças querem e necessitam, assim como o ar que respiram.”

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O que vai ser dito neste capítulo a respeito do professor de classe corresponde a um ideal e, obviamente, poucos professores o atingem plenamente. Mas convém lembrar-se freqüentemente do ideal ao qual se pretende chegar e tê-lo como meta. É esse o nosso intuito. De outro lado, o professor de classe precisa ter a coragem para assumir a imperfeição, pois é só assim que o ensino se toma algo vivo, espontâneo e alegre. É isso o que as crianças querem e necessitam, assim como o ar que respiram.
Por que existe, durante tantos anos, o mesmo professor de classe? As crianças querem ser percebidas continuamente em seu desenvolvimento, durante um período bastante grande. Esse período da vida da criança deve tomar-se uma biografia na consciência do professor. O professor de classe pode recorrer a todas as ajudas necessárias. Conversas com os pais, com o médico da escola, com as euritmistas curativas, com os colegas. Conflui na consciência do professor de classe tudo o que a criança vivencia nesses sete a oito anos. O professor de dasse forma um envoltório anímico e etérico ao redor da criança cujas forças etéricas adquirirão uma certa autonomia, no início da idade escolar. Finalmente, esse envoltório resulta do fato do professor ensinar tantas matérias e assim ajudar na formação de uma imagem do mundo para a criança. Podemos dizer que ele contribui para formar, com as crianças, uma espécie de envoltório grupal da classe, o qual, de agora em diante, fará parte dessa entidade social.
O professor de classe pretende ser um espírito universal e não um especialista. Ao acompanhara classe durante sete ou oito anos, ele passará, junto com os alunos, por uma transformação significativa. As crianças percorrem várias etapas, se ele ficar sempre o mesmo, logo perderá o contato íntimo com elas.
1° ao 3° ano: O professor recebe as crianças com carinhosa preocupação, dando continuidade, no melhor sentido, às tarefas dos pais. Cria ao seu redor, um ambiente de contos de fadas e de sagas. Seu calor anímico envolve a classe. O estilo das suas narrações cria uma atmosfera de confiança ilimitada. Ele tem dentro de si as Artes, como a Música e a Pintura, ele viveu com elas e sabe como, de forma vivificante, estas atuam sobre a fantasia. A fantasia que ele desenvolveu com as crianças é, também uma linguagem, bem distante de todo o intelectualismo.
4° e 5° anos: Na medida em que cresce com as crianças, espera-se dele um conhecimento sempre mais rico sobre a natureza. Ele se esforça para entender os arquétipos do mundo, para lidar com as antigas profissões, para vivenciar a essência das plantas e animais. Ele tomará vivas, em seu interior, as personalidades dos grandes homens do passado e estará feliz quando se enriquecer graças a elas. Sua linguagem ficará mais rica e as palavras deverão transmitir todas as nuanças da vida anímica.
6° ao 8° ano: Ao chegar às últimas classes, ele dará provas de um pensar claro e de competência objetiva. Ele deverá ter conhecimentos das ciências, embora não precise ser um especialista. Mas ele poderá deixar entrever uma profundidade no pensar, que o especialista, por motivos de prudência, muitas vezes não deixa transparecer. Mas ele deverá, antes de tudo, demonstrar que conhece o mundo pela prática. As suas descrições das Ciências naturais podem chegar aos níveis dos processos de trabalho, por exemplo: as tecnologias. O professor deve submeter-se à disciplina de perceber os aspectos da vida econômica e do dinheiro e não deverá ficar alheio ao que as crianças fazem fora da escola, embora não seja necessário que ele vivencie diretamente todos os aspectos. Mas ele precisa saber quais são as influências do meio ambiente que atua sobre os alunos, e ele deverá deixar dano o que sabe.
A transição para o nível médio: O professor deve saber como acompanhar seus alunos no mundo de fora, de modo que eles consigam perceber, pelo olhar dele, a beleza e a riqueza desse mundo. Aí, ele poderá ter a coragem de não preparar o ensino nos menores detalhes, mas de aproveitara iniciativa daqueles alunos que desejam assumir essa parte. Isso significa deixar, pouco a pouco, o envoltório aconchegante que ele originalmente procurava dar às crianças. Se ele ocupa um espaço anímico excessivo, o choque no final da sua atividade pode ser muito forte e as próprias crianças começariam a demolir as barreiras que ele continua erguendo, então, a despedida pode se tomar explosiva.
Na medida que ele caminha com as crianças, as exigências em relação aos conteúdos se tomam maiores. Ele não pode saber tudo que se espera dele. Nessas condições, a economia no próprio aprendizado vem a ser uma virtude essencial. O professor de classe procurará ter, no momento oportuno, conversas com um professor do colegial, pedindo, por exemplo, que este lhe recomende um livro apropriado para lhe abrir a visão do mundo a partir do enfoque da química. Ele procurará participar de congressos de complementação pedagógica e o colegiado dos professores estará atuando, com sábia visão futura, em ajudá-lo nisso, mesmo quando ele esteja convencido de que não pode abandonar a sua classe nem por um dia. Apesar de todo apoio, enfrentará algumas épocas com bastante receio. Aí, a escola poderá eventualmente organizar uma substituição por um professor “de matéria”; mas nesse caso ele deixará de vivenciar o efeito pedagógico especial daquelas épocas, causado pelo fato de ter ministrado a mesma com grande esforço. No fim do período do professor de classe, essa solução poderá talvez facilitar a transição para o nível do ensino médio. Além disso, os próprios alunos poderão gostar de constatar, em “seu” professor de classe, o valor de um trabalho de equipe entre os professores.
Ao voltar a um primeiro ano, o professor de classe não precisa guardar na memória tudo que aprendeu nesses oito anos! Na segunda passagem, será mais fácil vivificar a matéria. É mais importante que ele esqueça certas expectativas que decorrem da sua experiência anterior, pois a nova classe certamente será bem diferente da última! E, algo que tinha dado bons resultados anteriormente, talvez não seja mais conveniente. O próprio professor amadureceu. As suas palavras atuam de uma maneira diferente. Muitos professores de classe têm feito a seguinte experiência: na primeira vez, eles receberam como um donativo aquilo que, na segunda, precisarão adquirir bem conscientemente. E, as crianças, devido à velocidade da mudança, já são de uma outra geração. Mesmo durante os oito anos, o professor deveria ter ficado em contato com outras classes, então, a “antiga classe” deixaria de ser o universo exclusivo das suas experiências pedagógicas e ele manteria a visão da escola como um todo.

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